Rastreamento e Diagnóstico do Câncer Colorretal 

O câncer colorretal é o segundo mais comum no Brasil, mas pode ser prevenido com rastreamento adequado.

Descubra como cidades de pequeno e médio porte podem reduzir em 60% os custos com tratamento do CCR!

O Câncer Colorretal (CCR) é um grande problema de saúde pública em ascensão quanto à incidência e custos de tratamento, tanto no âmbito mundial, quanto local e regional. As últimas estimativas do INCA ( Instituto Nacional do Câncer) para o Estado da Paraíba são de 400 novos casos anualmente.

Como agravante do problema, inexiste política pública nacionalmente instalada de prevenção e rastreamento do CCR, uma vez que o principal recurso diagnóstico é a colonoscopia, com custo público elevado. Isso deixa claro que o uso desse recurso deve ser otimizado, para evitar as longas filas de espera no sistema, utilizando critérios de estratificação de riscos. Essa tendência mundial foi aplicada em alguns municípios do Brasil, como veremos a seguir. Ainda, nessa equação é fundamental que o médico compreenda sobre a diferença entre Rastreamento dos casos assintomáticos e o Diagnóstico dos sintomáticos.

O que é preciso saber!

O câncer do intestino é a segunda causa mundial de óbito por tumor maligno. No Brasil, sua incidência é crescente. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) para 2008 previam 26.990 casos novos e, dez anos depois, esses números subiram para 36.360, com 15.415 mortes pela doença. É a terceira causa de óbito por tumor maligno no Brasil, só perdendo para o câncer de próstata e o de mama. É a segunda causa de mortes por câncer na região sudeste e a primeira no Rio Grande do Sul. Ocorre tanto nos homens como nas mulheres, com discreto aumento da incidência nessas últimas.

O câncer é fatal. Quando descoberto tardiamente, provocará a morte de 50% dos acometidos em até 5 anos. Em 25% dos casos, no momento do diagnóstico, quando o paciente se apresenta sintomático, metástases hepáticas já estão presentes. Todavia, a chance de cura do câncer do intestino se for diagnosticado na sua fase inicial chega a 90%. 

A abordagem racional ideal, então, é a busca do diagnóstico precoce nos assintomáticos, considerando a idade como principal fator de risco. A maioria desses tumores se desenvolve a partir de pólipos, que são lesões benignas que crescem na parede interna do intestino e que podem se malignizar, com o passar dos tempos. Quando detectados e retirados, impedem o surgimento do câncer. Por isso, as medidas para prevenção e rastreamento do câncer do intestino devem ser feitas em pessoas assintomáticas. 

Como fazer o Rastreamento dos Assintomáticos na UBSF?

Atualmente, dispomos de exames para realização de RASTREAMENTO que podem identificar a doença e os seus precursores. Esses exames estão justificados pela crescente incidência desse tipo de tumor, sua elevada mortalidade e alto custo para tratamento nas fases mais tardias que, além da cirurgia, podem incluir a rádio e a quimioterapia.

Dentre os métodos disponíveis, a pesquisa de sangue oculto nas fezes tem 0 melhor custo-benefício para rastreamento populacional. Nos locais em que é aplicado, há queda da incidência do câncer do intestino em até 34%.

A incidência de pólipos em pessoas com mais de 50 anos de idade é de 18 a 36% e o primeiro sinal é com frequência a ocorrência de sangramento sob a forma de sangue “oculto” (em pequena quantidade) nas fezes. A triagem populacional é feita com a pesquisa de sangue oculto nas fezes em busca de hemoglobina humana (trata-se do FIT, iniciais em inglês para Teste Imunológico Fecal). Esse procedimento é simples e barato, e para sua realização requer pequena amostra das fezes. Quando o resultado é positivo, deve-se encaminhar o paciente para colonoscopia, que detectará e retirará os pólipos encontrados, evitando dessa maneira, o aparecimento do câncer do intestino. Os trabalhos mostram que aproximadamente 5 a 10% dos pacientes assintomáticos com idade a partir de 50 anos terão FIT positivo. Como a faixa etária preferencial de acometimento é de 50 aos 75 anos, a recomendação da OMS é de começar o rastreamento a partir dos 50.

Qual a efetividade desse rastreamento?

No Brasil, a experiência com este modelo de rastreamento ( Sangue oculto positivo seguido de colonoscopia) foi descrita no estudo piloto realizado pela ABRAPRECI (Associação Brasileira de Prevenção do Câncer de Intestino), em 2006-2007, em Santa Cruz das Palmeiras, Estado de São Paulo, para avaliação da viabilidade de rastreamento desse tipo de tumor e contou com adesão de 80% da população assintomática com 40 anos ou mais (os dados mundiais variam entre 60 e 90%). Quando os exames foram positivos, o que ocorreu em 10,7% (dados mundiais entre 1,3 e 9,8%), a colonoscopia foi indicada. Foram realizadas 56% das colonoscopias indicadas. Os adenomas foram identificados em 28% e o tumor maligno em 4,4% dos exames. A incidência do tumor do intestino na literatura é de 1,49:1000 pessoas/ano e nesse estudo foi de 2,47:1000 pessoas. Estudos mais recentes foram realizados em 2014, em cidade de população indigena, no Pará, pela SOBED; em 2016 na zona leste da cidade de São Paulo, pela Universidade de São Paulo; em 2016 no bairro da Moóca, pela ABRAPRECI e Hospital Oswaldo Cruz, e em 2019/2020, em São José dos Campos com média de 5% de sangue oculto positivo. As conclusões mostraram que o rastreamento é factível e que o tumor pôde ser evitado na população daqueles locais.

Portanto

Esses dados servem de parâmetro para o rastreamento do câncer do intestino em cidades de pequeno e médio porte, prevendo a quantidade de exames de colonoscopia, de procedimentos para retirada das lesões precursoras (polipectomias) e de operações para tratamento dos tumores identificados. Desta forma, pode-se prever o custo total para rastreamento. A economia com os custos de tratamento do tumor do intestino será reduzida em 60% em 5 anos, permitindo que o valor seja usado para prevenção e tratamento de outras doenças.

ABRAPRECI, SBCP (Sociedade Brasileira de Coloproctologia) e SOBED (Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva) estimulam a adoção deste modelo de rastreamento para os municípios e apoiaram a execução do estudo populacional para o diversos centros do país. Em 2023, este modelo foi implantado em Cairu- BA e em 2024 na cidade de Óbidos-PA na Campanha Março Azul de Prevenção do Câncer de Intestino.

Orienta-se que o médico da UBSF deverá solicitar a realização de FIT nos pacientes acima de 50 anos, sem sintomas do CCR e quando apresentarem resultados positivos, proceder a solicitação da colonoscopia. A frequência de realização do FIT deve ser anual.

Baixe agora o E-book gratuito, produzido pela Dra. Shirlane Frutuoso Malheiros e a Dra. Carmen Ruth Manzione Nadal, ambas Coloproctologistas TSBCP.

Apoio: Campanha Março Azul, Sociedade Brasileira de Coloproctologia e a ABRAPRECI. 

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